quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Haddad diz que vazamento de questões foi ato delituoso


O ministro da Educação, Fernando Haddad, disse nesta quinta-feira que o vazamento das 14 questões do Enem 2011 para estudantes do colégio particular Christus, em Fortaleza (CE), foi um "ato delituoso". Ele contou que chegou a essa conclusão com base em duas evidências que incriminam a escola.
Segundo o ministro, as apostilas distribuídas aos alunos dias antes do Enem, com pelo menos nove questões iguais às do exame, são réplicas de dois cadernos utilizados pelo Inep para pré-testar itens do Enem no colégio Christus, em outubro do ano passado. Além disso, Haddad afirmou que estudantes da escola cearense telefonaram para o serviço de 0800 do MEC e relataram ter recebido as apostilas no colégio, com a recomendação de que o material era sigiloso e não deveria ser distribuído a colegas de outras escolas.

"Está configurado o ato delituoso. Não há mais dúvida a respeito. Não foi por processo de memorização ou aleatoriedade que esses itens chegaram ao conhecimento dos alunos", disse Haddad ao GLOBO, por telefone.

O ministro disse que conversou com o diretor-geral da Polícia Federal e que ouviu que as informações já disponíveis sobre o caso indicam que será possível elucidar quem foram os responsáveis pelo vazamento.

Haddad disse que não há informação de que outras escolas tenham recebido o material distribuído a alunos do Colégio Christus. Ele aproveitou para defender o Enem:

"O Brasil evidentemente está se deparando com uma coisa nova (Enem), mas é um passaporte importante para o seu futuro, o seu desenvolvimento. Quase a totalidade da população entende assim, a maioria expressiva reconhece esse instrumento".

MPF no Ceará ajuiza ação pedindo anulação do Enem

O Ministério Público Federal no Ceará vai ajuizar uma ação civil pública pedindo a suspensão da medida do MEC de realizar um novo Enem apenas para os 639 alunos do Colégio Christus, de Fortaleza, nos dias 28 e 29 de novembro. Na ação, o procurador da República Oscar Costa Filho também vai propor a anulação da prova para todos os candidatos ou pelo menos das 14 questões que vazaram. Para o diretor do colégio Christus, Davi Rocha o mais correto seria a anulação das questões e que seus alunos não podem ser penalizados porque "não cometeram qualquer ilícito", informou em nota. Ele nformou que vai recorrer na Justiça da decisão classificada como "ilegal e abusiva".

O diretor acrescenta que alunos de outras escolas também podem ter tido acesso ao material produzido pelo Christus e por isso a melhor forma de resolver o problema seria a anulação das questões.

"Como a identificação dos alunos que tomaram conhecimento prévio das questões é improvável, a lógica, o bom senso e a legalidade impõem, como solução, a anulação das questões coincidentes, como forma de restabelecer a isonomia", defendeu ele em nota.

Histórico de problemas desde a mudança de formato em 2009

Desde 2009, quando o Enem passou a substituir o vestibular e servir como prova de acesso à graduação em diversas universidades federais em todo o Brasil, o exame foi marcado por uma sucessão de problemas. Naquele ano, houve o furto de uma das provas e o vazamento de seu conteúdo às vésperas de sua aplicação. O exame foi adiado por dois meses. Mas os problemas não pararam por aí. Candidatos também tiveram o local de prova alterado, e houve confusão no dia em que o exame foi aplicado em vários pontos do país. O gabarito também foi divulgado com erro.

Caso as provas sejam reaplicadas apenas para os 639 alunos do Colégio Christos, não seria a primeira vez que isso ocorreria. No ano passado, cerca de dois mil candidatos precisaram refazer parte do Enem devido a erros de impressão no caderno de questões de cor amarela. O segundo exame desses candidatos foi realizado junto com o dos presidiários. Em 2009, o mesmo ocorreu no Espírito Santo, quando fortes chuvas atingiram o estado e impossibilitaram a realização do exame.

Isso só é possível sem ferir a isonomia do concurso porque desde 2009 é utilizada a Teoria da Resposta ao Item (TRI) no cálculo da pontuação final. Pela TRI, as questões são divididas em três categorias - fácil, médio e difícil - e têm pesos diferentes. A introdução dessa metodologia, já utilizada em diversas avaliações de larga escala, como o SAT americano, permite a comparação de resultados dos candidatos, mesmo que não tenham respondido às mesmas perguntas.

Da Agência O Globo

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